Felipe Melo falou ontem ao Fantástico: Não sou o vilão da copa.
Por Globo.com
Em Paraty, cidade histórica no Rio de Janeiro, Felipe Melo recebeu Patrícia Poeta para conversar sobre uma história bem recente. Em um jogo coletivo, como é o futebol, ele tinha sido o escolhido da vez para carregar sozinho a derrota brasileira em uma Copa.
Patricia Poeta - Como é que têm sido seus dias no Brasil desde que você chegou?
Felipe Melo - Tranquilo. Eu esperava um pouco mais tumultuado, digamos assim... Mas eu saio na rua, o carinho do pessoal é grande... Eu tenho visto que o povo brasileiro gosta de mim.
Patricia Poeta - Já conseguiu parar de pensar naquele jogo contra a Holanda?
Felipe Melo - Não. Não.
Patricia Poeta - O que você sente numa hora dessa?
Felipe Melo: Uma angústia muito grande, uma tristeza de não poder voltar atrás. Poxa, aqueles dois gols. Eu não aceito essa derrota. Eu não consigo aceitar a derrota da maneira que foi.
Patricia Poeta - Na saída do estádio, ninguém na seleção conseguia aceitar a derrota.
Felipe Melo: Eu comecei a chorar compulsivamente. Chorava como uma criança, como eu jamais tinha chorado na minha vida. Eu olhei para o lado, eu chorava muito alto, não tinha como chorar baixo dentro do ônibus, quando olhei para o lado, estavam todos chorando.
Patricia Poeta - Você se sentiu um pouco culpado por aquilo ou não?
Felipe Melo - Me sinto culpado, tenho a minha parcela de culpa. Porém, eu sou um culpado que quando paro para pensar eu poderia ter feito coisa melhor? Não. Tudo que eu pude fazer eu fiz dentro de campo.
Patricia Poeta - No primeiro tempo, toda a seleção fez o que tinha de melhor a fazer. No segundo tempo, parecia outro time. O que aconteceu no intervalo daquele jogo? O que o Dunga falou pra vocês ali, naqueles minutos de intervalo?
Felipe Melo - A palavra principal que o Dunga usou ali foi concentração. Primeiro jogo contra a Coreia, no final a gente tomou gol. No final contra a Costa do Marfim, a gente tinha tomado gol também... A gente tem que entrar concentrado para chegar na final. Um a zero, se os caras empatarem eles vão vir para cima.
Patrícia Poeta - Logo no inicio do segundo tempo, o Brasil tomou o gol da Holanda. Você parou para pensar por que você e o Julio Cesar não conseguiram se entender naquele momento?
Felipe Melo: O Julio gritou, com a Vuvuzela é difícil de escutar. Aquela bola, você pensa que ela está na sua cabeça e ela sai. São tantas coisas que é difícil procurar o porquê, quem é o culpado.
Patricia Poeta - Depois que o Brasil tomou o segundo gol da Holanda, bateu a sensação para gente acabou a copa 2010?
Felipe Melo - Bate aquele desespero, né?
E o Felipe Melo estava no lance que revelou o desespero do time.
Patricia Poeta - A pergunta que muita gente se fez por aqui foi: por que o Felipe Melo pisou no Robben, jogador da Holanda, naquele jogo?
Felipe Melo - Aquele momento, perdendo o jogo de 2 a 1, toda a jogada que a gente tentava não dava certo, era um momento muito difícil. Naquela volúpia de querer tirar a bola, acabei fazendo uma falta um pouco mais forte que gerou o cartão vermelho.
Patricia Poeta - Aquela pisada não foi proposital?
Felipe Melo - Eu tenho uma experiência muito grande dentro do futebol. Se fosse uma entrada para quebrar o Robben, ele não voltaria para o jogo. Eu tenho a minha malícia. Todo jogador de futebol sabe como tirar um jogador de campo.
Patricia Poeta - A imagem mostrava você pisando e com toda a ajuda da tecnologia...A sensação para quem assistiu ao jogo pela televisão foi que você tinha perdido a cabeça naquele momento.
Felipe Melo - De repente, naquele momento eu posso ter perdido a cabeça naquela vontade de querer ajudar, de querer fazer algo mais, porque o Brasil não estava se encontrando dentro de campo.
Patricia Poeta - Alguns comentarista, torcedores de modo geral, já esperavam, já previam que você pudesse ser expulso de algum jogo da Copa do Mundo. Por que você acha que as pessoas pensaram isso a seu respeito?
Felipe Melo - É muito fácil falar no ar-condicionado, falando do Felipe Melo jogando. Eu sou um jogador de caráter muito forte. De repente eu pago por isso, eu pago por ser um cara que dentro de campo tem uma garra muito grande. E, às vezes, as pessoas acabam pensando que isso não é garra. E pensam: o cara é mau caráter, o cara quer entrar para ser desleal. Isso não é desleal, isso é garra.
Patrícia Poeta - Você teme ser o vilão da Copa de 2010 assim como de certa forma aconteceu com o Roberto Carlos na Alemanha em 2006?
Felipe Melo - De forma alguma eu sou o vilão, de forma alguma eu tento ser vilão. Parece que tudo que o Felipe Melo faz é tudo errado. As coisas boas as pessoas esquecem. Primeiro gol contra a Coreia, quem começou a jogada foi o Felipe Melo. Primeiro gol da Holanda, aquele passe para o Robinho que o Robinho fez um movimento fantástico que me ajudou muito. Tudo que eu fiz não pode ser apagado por um cartão vermelho em um momento em que o Brasil tava dominado pela Holanda e no placar dois a um para a Holanda.
Patrícia Poeta - O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, disse que espera que a seleção passe por uma renovação. Você acha que você tem chance de jogar na próxima Copa?
Felipe Melo - Ah, sem duvida nenhuma. Meu objetivo agora é voltar para Juventus, fazer um bom trabalho e voltar para seleção, porque o meu sonho não acabou.
Patricia Poeta – Você mesmo disse que a gente aprende com nossos erros e acertos, o que você aprendeu com a experiência na África do Sul?
Felipe Melo - Numa próxima Copa do Mundo, sem dúvida essa entrada no Robben, eu evitaria, com certeza. Eu não quero esquecer esse erro, porque eu quero tirar como lição.